Certeza que quem
inventou o chocolate Bis era um cara ruim, uma alma sebosa que trabalhava na
vibe da maldade. “Quem come um pede Bis” diz a propaganda. Que gênio do mal
cria uma comida que é “impossível comer um só” (ok, esse é o slogan da batata,
eu sei)?
Uma vez vivi uma
experiência antropológica por causa desse chocolatinho do mal. Trabalhava num
escritório onde tinha um senhorzinho, seu Aurélio (era tipo um faz-tudo), com mania
de fazer gentileza do jeito errado. Funcionário exemplar, era o primeiro a
chegar para voluntariamente preparar o café e, como bônus de bondade, deixava
um (apenas um!) Bis em cada mesa. Imagino que o senhorzinho comprava o
chocolate de fardão, pois éramos em mais ou menos 10. Se tem 20 numa caixa, o
mimo custava 10 caixas por mês (se não me falha a matemática).
Sei que quem
comia aquele Bis solitário não trabalhava o resto do dia. Ficava naquela
fissura do próximo e não conseguia se concentrar em nada. Eu, como tenho
ascendente em virgem e sou organizado pá dedéu, tinha uma estratégia: guardava
tudo e comia os cinco na sexta-feira. Fazia isso por ordem de chegada pra
começar a comer do mais murcho para o mais crocante.
A coisa ficou feia
quando um gaiato chegou mais cedo e resolveu dar uma de Cachinhos Dourados.
Aproveitou que ninguém estava presente e rapou as mesas. Na minha cabeça, o
meliante foi saltitando, de mesa em mesa, abocanhando as barrinhas de uma vez
só, com a boca toda lambrecada de chocolate. Quando chegamos, nada do mimo.
Ninguém quis ser indelicado e perguntar: “E aí, seu Aurélio, cadê aquele Bis
maroto?”, mas, no final do expediente, ele veio com a pergunta que fazia todos
os dias: “Comeu o docinho?”. Entendemos, então, que tinha um larápio entre nós.
Bem, o caso
repercutiu a ponto de chegar à diretoria. Foi convocada uma reunião geral e, em
vez de encontrarem o culpado, baixaram um decreto que proibiu deixar guloseima
à mesa de trabalho – e ainda mais presentear alguém com qualquer coisa
potencialmente viciante. Acreditem, um dos mandachuvas chegou a pedir a cabeça
do velhinho alegando que seus hábitos bondosos estavam causando a discórdia da
equipe. Logo essa ideia se dissipou, pois lembraram que era do seu Aurélio a
nobre responsabilidade de preparar o cafezinho.
Gentilezas devidamente
proibidas, a empresa seguiu dando lucro com todo mundo focado e sem distrações.
Coisas que aprendemos no mundo corporativo.
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