27 de junho de 2022

ASSALTO DESLEIXADO (Breja de Paulista)

 

- Fui assaltado ontem...

- Sério? Você tá bem?

- Tô bem. Levaram só o celular.

- Que sacanagem, cara.

- Normal, hoje em dia, roubo de celular e covid, quem não passou, vai passar.

- É, não tem carro blindado nem vacina que dê jeito.

- Não tem...

- Mas, eu vou te falar. Esse lance de roubar celular não deve dar dinheiro.

- Por quê?

- O cara que me assaltou era pobre.

- Como pobre?

- É, pobre. Malvestido... O cara veio com uma motinho zoada, com um trambolhão daqueles de Ifood nas costas todo ralado, um sapatênis de liquidação e uma camiseta do Torino... Não sei se é Torino... Como chama o time que o Neymar joga?

- Não faço a mínima ideia.

- É, então, mas você sabe qual é? Acho que a avó do bandido deu pra ele, deve ter comprado no camelô. Sabe? Ridículo.

- Pô, você ficou analisando o look do ladrão?

- Era gritante!!! O cara todo desleixado... Se eu fosse ladrão, só ia andar na moda.

- Larápio fashion.

- Exatamente isso. Ia usar só roupa de marca, tudo roubado. Sapato pá, camisa pans... Relojão...

- Ia fazer sucesso.

- Tô falando, esses caras não sabem empreender. Vestido elegantemente, você consegue roubar na educação, sem gritaria, susto, na maciota.

- De onde você tirou isso?

- Não sei. É uma teoria, estou elaborando nesse momento. De repente...

- É, realmente, o mundo seria muito melhor se ao invés de “perdeu, playboy” os caras chegassem com “Desculpe incomodar, mas, por favor, pode me passar o celular?”.

- É isso: etiqueta.  Esse é o lance.

- Podes crer...


22 de junho de 2022

O INV(F)ERNO CHEGOU!

 


Essa semana estava conversando com um vizinho, um senhor que até então era um doce de pessoa, e quando entramos no papo “que frio!” ele respondeu: “Não tenho problemas com frio nem com o calor. Meu segredo é aceitar o tempo do jeito que Deus manda. É a natureza...” passei a odiar aquele velhote no mesmo instante. Se a humanidade começar a ser complacente com o clima, acabou as conversas de elevador e daí, parceiro, para o fim da humanidade é um pulo.

 O que nos une é a insatisfação diária com o termômetro. Eu, por exemplo, reclamo do frio porque tá frio, do calor porque tá quente e do tempo ameno pela falta de personalidade climática. Dias felizes de primavera para mim não tem a menor graça.

 Da cacharrel à camiseta regata, tudo de duvidoso que foi criado no ramo de vestuário vem do nosso total incomodo com a temperatura. É como se o nosso organismo não fosse adaptado ao clima da terra em nenhuma das situações e isso justifica qualquer falta de senso com a moda.

 Agora, me solidarizo com o inverno em relação ao preconceito que ele sofre dos meteorologistas, principalmente os da Globo. Essa é uma época de dias cinzas, que são constantemente atacados por esses canalhas como “feios”. Nos telejornais o diálogo é comum: “Hoje o dia permanece feio em todo o estado.”, “E quando vai melhorar?”, pergunta o suposto âncora endossando a falta de beleza do céu, “No fim de semana, o sol vai abrir um pouquinho, só aqui na capital paulista”. Lê-se aí, pelos jurados do “Miss Dia”, que o domingo será, tipo, um feio bonitinho. Acho um preconceito descabido com os dias nublados. Segundo Pollyana, “todos os dias são lindos...”. Concordo e acrescento “...embora as temperaturas sempre são desagradáveis”.

 Fato é que, gostando ou não, o inverno chegou acompanhado de seus dias bipolares: calor seco e desconfortável ao longo do dia e friaca na madrugada. Se tá ruim para você, para outros pode estar ainda pior, então – é sempre bom lembrar – doe um agasalho.

18 de junho de 2022

QUEM PERGUNTOU?



Outro dia, reparei que tenho dificuldade em responder perguntas, qualquer tipo de questão, principalmente quando está fora do script da vida – e aqui dou como exemplo de estar no script a dúvida: “Débito ou crédito?”. A gente já está preparado, e dá tempo de ensaiar a resposta na fila da padoca, “Crédito”, “É de aproximação” e “Não precisa da minha via”.

Voltando à dificuldade em responder, quando a pergunta é feita à queima-roupa, invariavelmente começo a resposta com “sim, não, éééééé... então...”. Tá bem, todos sabemos que esse é o exato momento em que o cérebro está decidindo se responde a verdade ou inventa alguma coisa e, dependendo do tamanho do éééééé, estamos definindo qual seria a desculpa. Perguntas desagradáveis como “O que você vai fazer sábado à noite?” pedem um éééééé muito grande, já que a resposta “Qualquer coisa que não envolva sua companhia” não é muito aceitável.

 Até aí, tudo bem, o grande lance – e é esse o motivo de estar escrevendo este texto – é que descobri talvez um outro motivo para patinarmos tanto nas respostas, e isso tem a ver com problemas na infância. Explico: de menino ao começo da fase adulta, todas as perguntas que nos são feitas, são feitas por pessoas que já sabem a resposta e querem somente que você acerte o que elas querem ouvir, ou seja, você não precisa apenas responder, precisa saber a resposta certa. Professores, pais, polícia... De “Quem descobriu o Brasil” a “Esse baseado é seu?”, a gente pressupõe que a resposta deva ser “Cabral” e “Não, já estava no chão quando encostei nesse poste”, mas isso tudo gera uma tensão que levamos para a vida. Qualquer pergunta vem com a dúvida “O que será que essa pessoa quer que eu responda?”.

 

Por isso tudo, entendo por que esse pessoal que está entre 30 e 40 anos (não lembro o nome da geração) são muito arredios a qualquer tipo de pergunta. Eles não têm paciência para interações sociais que gerem tensão, e começar tudo com “Sim, não... éééééé” não é a deles. É preferível fazer uma cara de aborrecido, responder com “Hunf!” e olhar com olhos de “Não sou obrigado a responder”. Acho totalmente compreensível. Se eu tivesse nascido na década de 1980, hoje estaria caprichando na viradinha de olho: “Hunf, sei lá”.

Bom, era isso. Se tiver alguma dúvida sobre o tema, é só me chamar que esclareço. Já posso até adiantar o começo da resposta: “Sim, não... ééééééé... então...”.

14 de junho de 2022

SANTO ANTÔNIO DO TINDER

 


Hoje é dia de Santo Antônio, o casamenteiro. Não sei (e também não dei google pra saber) por que ele ganhou esse título, só sei que, se santo fosse, não ia querer cuidar desse BO. Em tempo de amores líquidos de Zygmunt Bauman, o serviço deve ter triplicado. Só o trabalho que Fábio Júnior e Gretchen deram ao santo já valeria bonificações extras e participação diferenciada nos lucros divinos.

Na verdade, ajudar os outros a casar me parece uma tarefa meio besta para um ser que tem o poder de interceder junto ao Pai (já diria Inri, The Crist). Acho que o santo tinha que agregar alguns diferenciais nas suas funções, tipo “arranjo casamentos, consigo descontos em Buffets afiliados e indico serviço de fotografia e filmagem a preços populares.”. Junta-se assim, o divino com o empreendedorismo.

Estava vendo no jornal, hoje pela manhã, que na Igreja de Santo Antônio, é dia de festa com barraquinhas e entre as iguarias (aquelas coisas de quermesse) tem o tradicional “bolo de Santo Antônio” que, pelo que entendi, vem com medalhinhas dentro. Se você comer um pedaço e achar a dita cuja provavelmente esse será o seu ano de sorte no amor. Não sei se isso dá certo, mas me preocupei muito vendo a cena, pela TV, das idosas se fartando de bolo despreocupadamente. Me deu um frio na barriga tipo “Já pensou se uma tia dessas engasga e morre em rede nacional?”. Tenho esse lance de ficar aflito com matérias ao vivo. Peguei esse trauma depois de testemunhar aquela pobre nutricionista atrapalhada com o retorno do áudio repetindo “sanduiche-iche-iche”. Virou meme, coitada. (Se não lembra, dá um google)

Mas, voltando ao santo casamenteiro, se não me falha a matemática, daqui a 5 anos a data vai cair numa sexta-feira 13, o que me deu a ideia de fazer um filme crossover entre Antônio e Jason. Uma trama simples, O santo juntaria os casais e o personagem do mal separaria os pombinhos com o seu facão. Sucesso de bilheteria garantido.

Cabe o alerta de que Santo Antônio dá, mas não escolhe, então se você está prestes a colocar a estátua do pobre de cabeça para baixo, que tal considerar o Tinder como opção?

9 de junho de 2022


 

COCÔ NA LUA


A Nasa conseguiu juntar duas coisas que alimentam a nossa criança de quinta série interior: viagem a lua e piada de cocô. Explico: depois de mais de 50 anos, o homem voltará a pisar na lua e, uma de suas missões é resgatar os dejetos deixados pelos primeiros visitantes. É exatamente isso, os primeiros americanos a pisarem na antes imaculada lua deram uma bela cagada em solo lunar, tendo o planeta Terra como testemunha. O pior é que deixaram tudo lá, pegaram a nave e se mandaram.

A fofoca de bastidores é que quando começou a vaporizar a ideia de uma nova missão à lua, Buzz Aldrin foi contra e tentou chochar a equipe com argumentos do tipo “Fazer o que lá? Eu já fui, não tem nada, só buraco e poeira... Um tédio só. E outra, a Terra é feia pacas, não vale nem pela vista.”

Percebendo a empolgação inabalável dos envolvidos, resolveu confessar: “Olha, se vocês encontraram alguma coisa por lá... Pode ser que eu tenha esquecido de puxar a descarga.” Questionado e pressionado a contar a história direito não só assumiu como caguetou os colegas: “Bom, a gente chegou lá e ficou meio nervoso, deu uma dor de barriga geral e acabamos nos aliviando numa daquelas crateras. A gente chegou até a embrulhar o resultado num saquinho de supermercado Extra e a ideia era trazer de volta, numa boa, mas na correria acabamos esquecendo tudo lá.” E ressaltou mais uma vez “Tá sussa de pegar, deixamos tudo embrulhadinho”. Assim, entrou mais esse item na lista de tarefas: “recolher o cocô da tripulação anterior”.

Esse é o melhor exemplo de “cabe às gerações futuras resolver as cagadas do passado.”

Para dar um ar de importância à tarefa, a Nasa informou que vai analisar os dejetos para saber o que houve com os fungos e bactérias presentes na hora do expurgo. Fiquei eu pensando (com a minha imaginação de nerd) que os inofensivos cocôs astronautas podem ter dado origem a uma nova civilização que daqui a alguns milhares de anos terá seres complexos, capazes de tomar cerveja em copos Stanley e se exercitarem em arenas de beach tennis... Pobre Lua.

Exageros e invenções à parte, a história é real. Parece que daqui dois anos teremos uma nova missão à lua e uma das tarefas é, realmente, recolher os dejetos deixados pela tripulação da Missão Apollo. Se tiver curiosidade dê um google aí: missão cocô lua.

31 de maio de 2022

DISCO DE NEWTON



Quando eu era meio pré-adolescente, meu pai comprou uma furadeira de última geração que, além de obviamente furar, também funcionava como lixadeira. Era o momento certo para eu ingressar no universo macho alpha/Ursulão e aprender a lidar com esse tipo de ferramenta. Não aconteceu. A única coisa que lembro ter feito com esse aparelho foi um disco de Newton, para provar a mim e à minha mãe entediada que sim, a soma de todas as cores da branco (até hoje não entendo como Newton chegou nessa pira).


Fato é que pagamos pelos erros do passado e, hoje, com quase cinco décadas de existência, sou uma negação no quesito furar paredes. Uma porque não tenho habilidade e outra por ter as mãos trêmulas. Qualquer furinho de 5 mm vira um rombo de 50. Malandro que sou, sempre uso broquinha para lidar com buracão (essa frase soou estranha, eu sei).

Recentemente, resolvemos colocar uma rede no meio da sala. Falei pra minha namorada: “deixa comigo!”, afinal de contas, colocar dois ganchos na parece não deve ser uma tarefa muito complexa. O saldo dessa empreitada foi uma parede similar a um queijo suíço e pó fino por absolutamente todo o apartamento. Todo! Diante de uma Carla estupefata, coube a mim botar toda a culpa na parede: “ela parece de adamantium revestida com manteiga. No começo, esfarela a parede toda, e dentro não há broca que penetre”. Pela sobrancelha esquerda arqueada e o clássico “ã-hã”, acho que a desculpa não colou.

Cabe a mim agora o vexame de assumir minha total inabilidade em reparos domésticos. Nem todos os tutoriais de YouTube resolvem (se bem que tem uns bons ensinando a fazer disco de Newton). Quanto à rede, até agora ninguém teve coragem de se deitar nela. Alguém se habilita?  


5 de maio de 2022

Deslacração

 

Quantos palavrões você fala quando abre uma garrafa de Gatorade? Normalmente eu falo cinco: um para tirar o plastiquinho, um para destravar a tampa e três para descolar o lacre (dependendo da cola, vai uns 10 só nesse processo).


A minha dúvida é: por que o Gatorade tem tanta proteção? Tenho a impressão de que, se uma bactéria ‘X’ cair lá dentro, corre-se o risco da humanidade toda ir para o saco em semanas. Imagino as manchetes que precederiam o juízo final: “Supergermes vitaminados por isotônicos ameaçam o planeta”, “Surto de Gatobactéria causa corrida aos supermercados”, “Mortes por Gatobactéria passa de 1 bilhão no mundo”, “presidente B*staNato anuncia que Gatobactéria é só uma caganeirinha”, “Brasil em festa: B*staNato morre em decorrência da Gatobactéria”.
Mas, saindo do sonho e voltando aos problemas cotidianos, é bom admitir que não evoluímos muito no quesito “tampa de coisas”. A de lata de sardinha, aquela que vem com um anel para você puxar, é um fiasco - quando não quebra no meio do processo, no final da abertura ela dá um tranco que joga óleo para todo lado. Já perdi dezenas de camisetas e alguns pijamas nessa distração. Aquela embalagem de frios que a gente abre pela orelhinha e depois fecha de novo é a invenção do capeta, quase impossível de abrir e, uma vez feito, não fecha mais - Não cumpre a promessa. A lata de palmito (que já foi símbolo da força masculina) também requer habilidade e conhecimento básico de física para ser aberto. “Ah, o truque é enfiar uma faca no cantinho e deixar sair o ar”. Já ensinava a vovó... Mas, se não tiver faca, esquece.
Fato é que, está todo mundo preocupado em lacrar, mas deslacrar que é o grande problema. Fica a dica para indústria da vedação.

ASSALTO DESLEIXADO (Breja de Paulista)

  - Fui assaltado ontem... - Sério? Você tá bem? - Tô bem. Levaram só o celular. - Que sacanagem, cara. - Normal, hoje em dia, roubo...