- Fui assaltado ontem...
- Sério? Você tá bem?
- Tô bem. Levaram só o celular.
- Que sacanagem, cara.
- Normal, hoje em dia, roubo de
celular e covid, quem não passou, vai passar.
- É, não tem carro blindado nem vacina
que dê jeito.
- Não tem...
- Mas, eu vou te falar. Esse
lance de roubar celular não deve dar dinheiro.
- Por quê?
- O cara que me assaltou era
pobre.
- Como pobre?
- É, pobre. Malvestido... O cara
veio com uma motinho zoada, com um trambolhão daqueles de Ifood nas costas todo
ralado, um sapatênis de liquidação e uma camiseta do Torino... Não sei se é
Torino... Como chama o time que o Neymar joga?
- Não faço a mínima ideia.
- É, então, mas você sabe qual
é? Acho que a avó do bandido deu pra ele, deve ter comprado no camelô. Sabe?
Ridículo.
- Pô, você ficou analisando o look
do ladrão?
- Era gritante!!! O cara todo desleixado...
Se eu fosse ladrão, só ia andar na moda.
- Larápio fashion.
- Exatamente isso. Ia usar só
roupa de marca, tudo roubado. Sapato pá, camisa pans... Relojão...
- Ia fazer sucesso.
- Tô falando, esses caras não
sabem empreender. Vestido elegantemente, você consegue roubar na educação, sem
gritaria, susto, na maciota.
- De onde você tirou isso?
- Não sei. É uma teoria, estou
elaborando nesse momento. De repente...
- É, realmente, o mundo seria
muito melhor se ao invés de “perdeu, playboy” os caras chegassem com “Desculpe
incomodar, mas, por favor, pode me passar o celular?”.
- É isso: etiqueta. Esse é o lance.
- Podes crer...