18 de junho de 2022

QUEM PERGUNTOU?



Outro dia, reparei que tenho dificuldade em responder perguntas, qualquer tipo de questão, principalmente quando está fora do script da vida – e aqui dou como exemplo de estar no script a dúvida: “Débito ou crédito?”. A gente já está preparado, e dá tempo de ensaiar a resposta na fila da padoca, “Crédito”, “É de aproximação” e “Não precisa da minha via”.

Voltando à dificuldade em responder, quando a pergunta é feita à queima-roupa, invariavelmente começo a resposta com “sim, não, éééééé... então...”. Tá bem, todos sabemos que esse é o exato momento em que o cérebro está decidindo se responde a verdade ou inventa alguma coisa e, dependendo do tamanho do éééééé, estamos definindo qual seria a desculpa. Perguntas desagradáveis como “O que você vai fazer sábado à noite?” pedem um éééééé muito grande, já que a resposta “Qualquer coisa que não envolva sua companhia” não é muito aceitável.

 Até aí, tudo bem, o grande lance – e é esse o motivo de estar escrevendo este texto – é que descobri talvez um outro motivo para patinarmos tanto nas respostas, e isso tem a ver com problemas na infância. Explico: de menino ao começo da fase adulta, todas as perguntas que nos são feitas, são feitas por pessoas que já sabem a resposta e querem somente que você acerte o que elas querem ouvir, ou seja, você não precisa apenas responder, precisa saber a resposta certa. Professores, pais, polícia... De “Quem descobriu o Brasil” a “Esse baseado é seu?”, a gente pressupõe que a resposta deva ser “Cabral” e “Não, já estava no chão quando encostei nesse poste”, mas isso tudo gera uma tensão que levamos para a vida. Qualquer pergunta vem com a dúvida “O que será que essa pessoa quer que eu responda?”.

 

Por isso tudo, entendo por que esse pessoal que está entre 30 e 40 anos (não lembro o nome da geração) são muito arredios a qualquer tipo de pergunta. Eles não têm paciência para interações sociais que gerem tensão, e começar tudo com “Sim, não... éééééé” não é a deles. É preferível fazer uma cara de aborrecido, responder com “Hunf!” e olhar com olhos de “Não sou obrigado a responder”. Acho totalmente compreensível. Se eu tivesse nascido na década de 1980, hoje estaria caprichando na viradinha de olho: “Hunf, sei lá”.

Bom, era isso. Se tiver alguma dúvida sobre o tema, é só me chamar que esclareço. Já posso até adiantar o começo da resposta: “Sim, não... ééééééé... então...”.

Nenhum comentário:

ASSALTO DESLEIXADO (Breja de Paulista)

  - Fui assaltado ontem... - Sério? Você tá bem? - Tô bem. Levaram só o celular. - Que sacanagem, cara. - Normal, hoje em dia, roubo...