18 de fevereiro de 2022

ORELHAS DE PEDAL

Meus óculos estavam bem tortos. Não sei se é indelicada a comparação, mas se fossem do Cerveró (lembram dele?), estariam perfeitos. Resolvi, então, contar com a bondade de uma ótica pra tentar desentortar o dito cujo. Não rolou.

 

Depois de passar horas me apresentando armações mais modernas e em harmonia com minha cara de tacho, finalmente ele mudou a estratégia e me convenceu de que os meus óculos estavam em perfeitas condições e o problema estaria nas minhas orelhas. “Uma é muito mais acima do que a outra. Pode reparar, a da esquerda está perto do queixo e a da direita quase no topo da cabeça” afirmou com as duas mãos paralelas na frente do meu rosto.

 

Impressionante o exagero do optometrista. Segundo sua análise, para as palavras entrarem por um ouvido e saírem pelo outro precisariam pegar um elevador no meu nariz. Como última investida, ele me apresentou duas soluções: lentes de contato ou um pince-nez, que, segundo ele, está voltando à moda, principalmente para pessoas da minha idade. Fiquei de pensar na proposta e, antes que ele fizesse outra observação precisa e relevante sobre a minha pessoa, dei um moonwalk porta afora.

 

Conclusão, naquele dia, voltei pra casa com os óculos tortos, um complexo e uma solução: virar modelo vivo dos quadros de Picasso.

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ASSALTO DESLEIXADO (Breja de Paulista)

  - Fui assaltado ontem... - Sério? Você tá bem? - Tô bem. Levaram só o celular. - Que sacanagem, cara. - Normal, hoje em dia, roubo...