Meus óculos estavam bem tortos. Não sei se é indelicada a comparação, mas se fossem do Cerveró (lembram dele?), estariam perfeitos. Resolvi, então, contar com a bondade de uma ótica pra tentar desentortar o dito cujo. Não rolou.
Depois de passar horas me apresentando armações mais
modernas e em harmonia com minha cara de tacho, finalmente ele mudou a
estratégia e me convenceu de que os meus óculos estavam em perfeitas condições
e o problema estaria nas minhas orelhas. “Uma é muito mais acima do que a outra.
Pode reparar, a da esquerda está perto do queixo e a da direita quase no topo
da cabeça” afirmou com as duas mãos paralelas na frente do meu rosto.
Impressionante o exagero do optometrista. Segundo sua análise,
para as palavras entrarem por um ouvido e saírem pelo outro precisariam pegar
um elevador no meu nariz. Como última investida, ele me apresentou duas
soluções: lentes de contato ou um pince-nez, que, segundo ele, está voltando à
moda, principalmente para pessoas da minha idade. Fiquei de pensar na proposta
e, antes que ele fizesse outra observação precisa e relevante sobre a minha
pessoa, dei um moonwalk porta afora.
Conclusão, naquele dia, voltei pra casa com os óculos
tortos, um complexo e uma solução: virar modelo vivo dos quadros de Picasso.
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